A Trilha Transmantiqueira
A Serra da Mantiqueira é uma das mais importantes cadeias montanhosas do Brasil, localizada no sudeste do Brasil, praticamente na divisa dos estados de Minas Gerais, São Paulo e Rio de Janeiro. É considerada o maior berço produtor de biodiversidade regional e de grande relevância ecológica. Estudos feitos pela IUCN e publicados na revista Science, classificam-na como a 8aº área mais insubstituível do planeta.
A Trilha Transmantiqueira (TMTQ) é uma Trilha de Longo Curso (TLC) que atravessa a serra da Mantiqueira no sentido oeste-leste, com um percurso que ultrapassa 1.200 km de extensão, cruzando mais de 40 municípios dos estados de São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro e promovendo a integração de mais de 30 Unidades de Conservação. A TMTQ faz parte da Rede Brasileira de Trilhas de Longo Curso, que tem como objetivo conectar o território brasileiro através de trilhas caminháveis, atuando como ferramenta de conservação, aparelho de recreação e alternativa para gerar emprego e renda junto às comunidades locais.
O movimento teve início no final de 2017 e já agrega muitos entusiastas e voluntários. Tem se dado de forma participativa e horizontalizada, tendo como princípio a construção coletiva em processo bottom up (de baixo para cima) no qual a participação social é essencial para o alcance dos objetivos, uma vez que todos os indivíduos e entidades são os verdadeiros stakeholders (todos os envolvidos). Os processos participativos são pautados na inclusão e no pluralismo de pessoas, comunidades, grupos e instituições, dinamizam e ampliam a abrangência dos resultados frente à convergência de experiências e diversidade. Mesmo com essa abordagem que valoriza o trabalho voluntário e participativo, procurando sempre incentivar as lideranças locais, o projetos está saindo do papel pelo amplo apoio institucional dado pelo ICMBio pelos institutos ambientais estaduais, pelos gestores das U.Cs e prefeituras.
“Conectar pessoas, desenvolver o território e preservar o meio ambiente fazem parte de um ciclo virtuoso almejado nos resultados deste projeto. ecológico.”
Até o momento, o projeto já realizou 10 seminários para difusão do movimento e do conceito de TLC, mais de 20 mutirões e 1 programa de voluntariado com a APA da Serra da Mantiqueira que juntos, resultaram na sinalização de 200 km de trilha. Ainda espera-se um modelo de desenvolvimento territorial sustentável como estratégia de conservação e ordenamento do turismo de montanha da Mantiqueira além do desenvolvimento dos indivíduos e das comunidades tradicionais, evitando o esvaziamento das mesmas por falta de oportunidade, emprego e renda. A trilha tem papel estratégico ao privilegiar a educação ambiental na promoção do contato com o ambiente natural, bem como a busca de alternativas às relações da sociedade com a natureza e seus indivíduos, por meio da descoberta de novos estilos de vida, gastronomia, crenças e valores, arquitetura, etc.
2º Seminário: ParNa Itatiaia-RJ (23 e 24 fevereiro 2018)
3º Seminário: Campos do Jordão-SP (18 e 19 maio 2018)
4º Seminário: PE da Serra do Papagaio-MG (23 e 24 junho 2018)
5º Seminário: Itamonte-MG (18 e 19 agosto 2018)
6º Seminário: Visconde de Mauá-RJ (14 e 15 fevereiro 2019)
7º Seminário: Extrema-MG (4 e 5 maio 2019)
8º Seminário: Passa Quatro-MG (8 e 9 junho 2019)
9º Seminário: PE do Ibitipoca-MG (8 e 9 novembro 2019)
O Traçado
Após o Horto, a trilha cruza o Parque Estadual da Cantareira, o MoNa da Pedra Grande, contornando as margens da Represa do Jaguarí - que é o maior do sistema Cantareira – e atinge o pé da Serra do Lopo, onde efetivamente a Mantiqueira começa a ficar majestosa. A trilha segue na direção oeste, cruzando dezenas de municípios e unidades de conservação até chegar em Aiuruoca-MG, no Parque da Serra do Papagaio onde a mesma se subdivide em ramal oeste e ramal norte.
No ramal oeste a trilha prossegue até chegar no município de Santa Rita de Ibitipoca-MG quando a adentra o Parque Estadual do Ibitipoca e finalizada na famosa Janela do Céu. No ramal norte a trilha segue até terminar no município de Itumirim, antes passando pela Chapada das Perdizes e por Carrancas. O percurso completo terá mais de 1.200 km de extensão.
O traçado da trilha foi planejado como um todo, mas a sua implementação foi dividida pela magnitude do projeto. Em 2018, os trabalhos foram mais focados em um trecho ininterrupto de 450 quilômetros desde São Bento de Sapucaí-SP até Aiuruoca-MG, mas sempre com a preocupação de não limitar as ações fora desse segmento. Em 2019 e 2020 foi planejado a consolidação do segmento trabalhado em 2018, bem como a sua expansão desde o Horto Florestal a Oeste e até o Parque Estadual do Ibitipoca a leste. Ainda não foi iniciado os trabalhos no ramal que começa em Aiuruoca-MG e segue até Itumirim-MG.
A TMTQ já partiu com uma proposição de linha mestra, adotando caminhos que já eram consolidados e propondo a ligação entre eles. O objetivo é explorar a “melhor linha que a montanha oferece” dentro da perspectiva de contemplar os principais atrativos naturais da Serra da Mantiqueira, conectar comunidades rurais e unidades de conservação e garantir o fluxo gênico dentro de um corredor ecológico. Contudo, a governança local e os atores já envolvidos, têm sido fundamentais para o refinamento dessa “melhor linha”, uma vez que são esses os agentes que conhecem mais profundamente a realidade de cada quilometro de trilha. Assim, um trabalho importante que se consolida a cada encontro de governança é o mapa aprimorado de cada trecho, alguns já com a iniciativa de identificar quem são os possíveis pontos de apoio, abastecimento, pouso e alimentação no seu entorno. Em última também, alguns conflitos e pontos críticos são mapeados e levados para discussão junto à coordenação geral, como por exemplo, caminhos por áreas intangíveis de U.C.s, áreas que precisam de um manejo mais efetivo, ou, ainda, propriedades particulares onde o acesso é restrito.
Benefícios econômicos
Instrumento de Conservação
- chuva ácida,
- espécies invasoras,
- águas poluídas,
- mudança climática
- e que representam ameaças à saúde de todos.
Hugo de Castro Pereira
Presidente da Rede Brasileira de Trilhas, o Coordenador Geral da Trilha Transmantiqueira
hugodcp@gmail.com
@hugodcp
2020
TMTQ e seu Corredor Ecológico
A Trilha Transmantiqueira percorre uma das maiores e mais importantes cadeias montanhosas do sudeste brasileiro, a Serra da Mantiqueira, que abrange parte dos estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais. O relevo acidentado, com cotas altimétricas variando de 800 a 2.800 metros, condicionou uma grande diversidade de ambientes: floresta ombrófila densa, floresta ombrófila mista, floresta estacional semidecidual, candeial, campos arenosos, campos rupestres, campos encharcáveis e cerrado de altitude. Num padrão usualmente observado em outras regiões montanhosas do mundo, as características do relevo dificultaram a ocupação da região, que atualmente ainda preserva grandes blocos florestais. A cobertura vegetal remanescente, a alta riqueza de espécies (especialmente a ocorrência de endemismos de répteis, anfíbios e plantas) e as belezas cênicas fizeram da Serra da Mantiqueira uma das áreas definidas Pelo Ministério do Meio Ambiente como prioritárias para conservação da Mata Atlântica brasileira.
Os extensos fragmentos bem conservados de floresta e a existência de 30 unidades de conservação da Trilha Transmantiqueira formam um extenso corredor dentro de uma grande região denominada “Corredor Ecológico da Serra do Mar” - um dos corredores regionais definidos pelo Ministério do Meio Ambiente para conservação da biodiversidade da Mata Atlântica. A proposta de estabelecer corredores ecológicos, ou de biodiversidade, em grandes extensões introduziu uma nova abordagem, focada em conservar os fragmentos de vegetação e restaurar a conectividade em nível regional. Dentre as estratégias para promover a conectividade entre os remanescentes destacam-se a criação de unidades de conservação, a adoção de técnicas sustentáveis de uso do solo, a recuperação de áreas degradadas, de mananciais, o fortalecimento da capacidade local e a criação de uma rede de parceiros informada e fortalecida através da participação e mobilização - estratégias compatíveis e fortalecidas pelas trilhas de longo curso.
A presença do conjunto de unidades de conservação da Trilha Transmantiqueira também levou o Ministério do Meio Ambiente a criar, em 2006, o “Mosaico Mantiqueira”, uma rede de áreas protegidas na Mantiqueira, cujo objetivo é a gestão integrada dessas áreas. O reconhecimento do mosaico confirma a relevância da Mantiqueira para conservação da biodiversidade e dos recursos hídricos.
A disponibilidade hídrica, associada a sua localização geográfica, perto de grandes centros urbanos, confere ao corredor ecológico percorrido pela Trilha Transmantiqueira um importante papel. As águas geradas na serra da Mantiqueira abastecem grande parte da cidade de São Paulo e várias outras cidades no vale do Paraíba do Sul. A bacia hidrográfica do rio Jaguari, localizada nos municípios de Extrema, Camanducaia, Itapeva e Toledo em Minas Gerais, por exemplo, é responsável pela produção da maior quantidade de água que abastece o Sistema Cantareira. Esse sistema, um dos maiores de abastecimento público do mundo, fornece água para 8,8 milhões de pessoas, ou seja, cera de 42% da população da Região Metropolitana de São Paulo.
A paisagem da Trilha Transmantiqueira tem atraído cada vez mais cidadãos de origem urbana que vêem na Mantiqueira uma área de lazer e contemplação da natureza, próxima dos maiores centros urbanos do pais, São Paulo e do Rio de Janeiro. Por outro lado, a vocação dessa região de imensa beleza e de grande fragilidade ambiental, devido ao relevo acidentado, aponta para o desenvolvimento compatível com a sua conservação, demandando a identificação de atividades sustentáveis. Nesse contexto, a Trilha Transmantiqueira constitui uma promissora oportunidade para o fortalecimento do ecoturismo regional, apoiando a conservação no melhor estilo do "conhecer para conservar".
Fonte:
Herrmann, G. 2011. Incorporando a teoria ao planejamento regional da conservação da biodiversidade: a experiência do Corredor Ecológico da Mantiqueira. Valor Natural, Belo Horizonte. 228p.
Gisella Hermann é diretora de meio ambiente da Rede Brasileira de Trilhas
Estabilidade hídrica
-
Mantiqueira = origem tupi-guarany (mohn-thy-kyiri), foi aportuguesada. Significa “montanha que chora” ou “mãe das águas”.
# |
Municípios |
UFs |
1 |
São Paulo |
SP |
2 |
Mariporã |
SP |
3 |
Guarulhos |
SP |
4 |
Nazaré Paulista |
SP |
5 |
Bom Jesus dos Perdões |
SP |
6 |
Piracaia |
SP |
7 |
Atibaia |
SP |
8 |
Bragança Paulista |
SP |
9 |
Vargem |
SP |
10 |
Extrema |
MG |
11 |
Joanópolis |
SP |
12 |
São José dos Campos |
SP |
13 |
Camanducaia |
MG |
14 |
Gonçalves |
MG |
15 |
Sapucaí-Mirim |
MG |
16 |
São Bento do Sapucaí |
SP |
17 |
Campos do Jordão |
SP |
18 |
Pindamonhangaba |
SP |
19 |
Delfim Moreira |
SP |
20 |
Guaratinguetá |
SP |
21 |
Piquete |
SP |
22 |
Marmelópolis |
SP |
23 |
Cruzeiro |
SP |
# |
Municípios |
UFs |
24 |
Passa Quatro |
MG |
25 |
Lavrinhas |
SP |
26 |
Queluz |
SP |
27 |
Itanhandu |
MG |
28 |
Itamonte |
MG |
29 |
Resende |
RJ |
30 |
Itatiaia |
RJ |
31 |
Bocaina de Minas |
MG |
32 |
Alagoa |
MG |
33 |
Baependi |
MG |
34 |
Aiuruoca |
MG |
35 |
Carvalhos |
MG |
36 |
Liberdade |
MG |
37 |
Bom Jardim de Minas |
MG |
38 |
Santa Rita de Jacutinga |
MG |
39 |
Rio Preto |
MG |
40 |
Olaria |
MG |
41 |
Lima Duarte |
MG |
42 |
Santa Rita de Ibitipoca |
MG |
43 |
Serranos |
MG |
44 |
Minduri |
MG |
45 |
Carrancas |
MG |
46 |
Itutinga |
MG |
47 |
Itumirim |
MG |
# |
UCs |
UFs |
1 |
APA Boqueirão da Mira |
MG |
2 |
APA da Serra da Mantiqueira |
RJ, SP e MG |
3 |
APA de Campos do Jordão |
SP |
4 |
APA Fernão Dias |
MG |
5 |
APA Mananciais do Rio Paraíba do Sul |
SP |
6 |
APA São Francisco Xavier |
SP |
7 |
APA Sapucaí Mirim |
MG |
8 |
APA Sistema Cantareira |
SP |
9 |
MONA Estadual da Pedra do Baú |
SP |
10 |
MONA Municipal do Pico do Itaguaré |
SP |
11 |
MONA Estadual da Pedra Grande |
SP |
12 |
MONA Municipal Pedra do Picu |
MG |
13 |
MONA Estadual Mantiqueira Paulista |
MG |
14 |
PE Alberto Löfgren |
SP |
15 |
PE da Cantareira |
SP |
16 |
PE da Pedra Selada |
RJ |
17 |
PE da Serra do Papagaio |
MG |
18 |
PE da Serra Negra da Mantiqueira |
MG |
19 |
PE de Campos do Jordão |
SP |
# |
UCs |
UFs |
20 |
PE de Itapetinga |
SP |
21 |
PE do Ibitipoca |
MG |
22 |
PE dos Mananciais de Campos do Jordão |
SP |
23 |
Parque Natural Municipal da Grota Funda |
SP |
24 |
PN do Itatiaia |
RJ, SP e MG |
25 |
RPPN Alto do Deco |
SP |
26 |
RPPN Alto Montana |
MG |
27 |
RPPN Cachoeira do Tombo |
MG |
28 |
RPPN da Mata |
MG |
29 |
RPPN Gigante do Itaguaré |
SP |
30 |
RPPN Mitra do Bispo |
MG |
31 |
RPPN Mitra do Bispo I I |
MG |
32 |
RPPN Pedra da Mina |
SP |
33 |
RPPN Santa Rita de Cássia |
SP |
34 |
RPPN Serra do Papagaio-Matutu |
MG |
35 |
RPPN Serrinha |
SP |
36 |
RPPN Serrinha |
SP |
37 |
RPPN Pico dos Cabritos |
MG |