A sinalização
I - Introdução:
As recentes ações de sinalização das trilhas brasileiras vão justamente ao encontro de um movimento de sucesso que ecoa mundo afora, onde essas trilhas são usadas como poderosos aparelhos de recreação e educação ambiental, além de uma ótima ferramenta para a conservação do meio ambiente e uma alternativa para gerar de emprego e renda por onde elas passam.
Tótens de pedras nas montanhas
-Proteção para o meio ambiente, facilitando ações de manejo e diminuindo o impacto no local ao evitar processos erosivos, criação de atalhos e pisoteio de áreas sensíveis; recuperando nascentes; diminuindo a perturbação aos animais; induzindo o caminhante para o trajeto desejado pelos gestores da trilha, etc.
No Brasil, a “arte” de sinalizar trilhas vem crescendo dentro e fora das Unidades de Conservação. Elas são coordenadas e orientadas pela Rede Brasileira de Trilhas de Longo Curso e Conectividade (REDE TRILHAS) que, por sua vez, segue o preconizado no Manual de Sinalização do ICMBIO. Este manual foi o resultado de uma extensa e minuciosa pesquisa seguida de visitas técnicas às entidades responsáveis por unidades de conservação do meio ambiente em diversos países.
A Trilha Transcarioca, na cidade do Rio, é um exemplo de sucesso da implantação do novo padrão de sinalização brasileiro. A Trilha Transmantiqueira, uma TLC (Trilha de Longo Curso) nacional que atravessa terras de SP, MG e RJ, segue o mesmo caminho.
II - Entendendo a sinalização da Trilha Transmantiqueira
De uma maneira geral, a sinalização se apresenta na trilha de 2 formas:
-A sinalização em árvores é feita na camada exterior do seu tronco (casca ou súber), sem comprometer o sistema vascular da planta por onde a seiva é conduzida (xilema e floema). Em algumas espécies, raspamos levemente um pouco da casca para melhor fixação da sinalização que ficará, preferencialmente, do lado direito da trilha e na altura dos olhos (1,70m).
Placa de Entrada de Trilha (PET) nos EUA, com mapa e informações da trilha
“Uma trilha onde existe a presença extensiva de sinalização e manutenção periódica demonstra a presença do Estado no local, servindo como instrumento de segurança para caminhantes e inibindo a presença de elementos mal intencionados”.
III - Marca de uma trilha: Identidade e pertencimento
O pessoal que, no futuro, iria compor os quadros do REDE TRILHAS juntamente com os responsáveis pelo Manual de Sinalização do ICMBIO, disseram que sim e mostraram o porquê.
Primeiramente, cada trilha criaria o seu próprio “símbolo”, uma característica que a representasse dentro da sua região (marco da topografia local, ponto turístico, etc.), tornando a sua trilha identificável no âmbito nacional dentro da REDE, conferindo, desta forma, uma IDENTIDADE para a mesma.
Em seguida, o símbolo escolhido seria “modificado, estilizado” para ficar parecido com alguma coisa que nos remetesse ao ato de “caminhar”. O que melhor representaria isto? Claro que é uma PEGADA, a marca deixada no chão pela sola de uma bota de trilha. Inclusive, essa pegada poderia até dar uma “direção”, bastando olhar o sentido que ela estava seguindo...
A partir daí, começaram a pipocar, país afora, os “símbolos” das trilhas que, conectadas entre sim e também ligando Unidades de Conservação, fariam brotar no futuro, as famosas Trilhas de Longo Curso, juntamente com os tais “corredores ecológicos”...
Uma cachoeira - Trilha das 10 Cachoeiras - MG
Uma seringueira - Trilha Chico Mendes - AC
PEGADA (caminhar) + SETA (naquela direção) = COMPREENSÃO UNIVERSAL
Enquanto isso, na Trilha Transmantiqueira...
A Pinha e a Araucária - Foto: Douglas-Scortegagna
E terminou por aí?
Não. Têm mais coisa...
Voltando ao assunto da “marca” e “publicidade”.
Com o símbolo definido, podemos pensar agora na “MARCA”, juntar ao símbolo, tudo aquilo que nós queremos que ele represente: missão, visão, valores e, é claro, o “usuário” da trilha. E alinharmos a isso os conceitos que permeiam as TLCs: um aparelho de recreação junto à natureza; uma ferramenta de conservação para a Mantiqueira; o resgate da história e da cultura do território no entorno da trilha, desenvolvendo as comunidades de forma sustentável, sendo também uma alternativa para gerar emprego e renda.
Agora sim, temos uma MARCA: símbolo + o que ele representa.
Por último, é fato também que a MARCA da trilha, além de conferir IDENTIDADE àquele caminho que atravessa vales, montanhas e matas, vai também gerar um sentimento novo em seus usuários, moradores e voluntários, o PERTENCIMENTO: a trilha também me pertence, agora ela tem vários “donos” e eu sou um deles! A trilha agora tem quem cuide dela. A trilha agora tem “governança”. Sou também responsável por ela!
Hoje, o caminhante quando observa uma tabuleta ou uma sinalização rústica na cerca, na árvore ou na pedra, sabe que, além de estar na trilha certa e na direção escolhida, ele também está dentro de um sistema, de uma REDE de trilhas, todas unidas e com objetivos em comum – nós agora não somos simples usuários, como durante muito tempo todos fomos, agora somos parte da trilha, da engrenagem que a mantém viva.
A TMTQ está sendo sinalizada, inicialmente, de OESTE para LESTE, ou seja, do Parque Estadual da Cantareira-SP, próximo ao Horto Florestal, até o Parque Estadual de Ibitipoca-MG, atravessando outras dezenas de Unidades de Conservação, dentre elas uma federal, o Parque Nacional de Itatiaia-RJ.